O Brasil tem uma incrível dificuldade de superar os anos 1990. No futebol, isto parece ser colocado cada vez mais em prática, especialmente por todo o imbróglio que abrange Flamengo, Globo, Campeonato Carioca e até o presidente Jair Bolsonaro, que viu uma oportunidade de bater no conglomerado de mídia utilizando uma valiosa arma.
Com a entrada da MP que dá o direito de transmissão nas mãos dos clubes mandantes, que decidem para quem e por quanto vão vender, a importância do jornalismo esportivo ficou em evidência, especialmente após a Globo anunciar que não transmitirá o restante do campeonato, dando chance aos clubes de montarem suas próprias transmissões.
Flamengo, Fluminense e Vasco transmitiram jogos por meio de seus canais no YouTube. É claro que ninguém esperava por uma transmissão imparcial, portanto, os times aproveitaram para promover um espetáculo clubista e emocionado, na visão que muitos torcedores enxergam, deixando de lado a informação, parte valiosa de qualquer transmissão televisiva.
Um exemplo é a transmissão da partida entre Flamengo e Volta Redonda. Os narradores da FlaTV simplesmente desconheciam o meia Bernardo, do Volta Redonda, o tratando como um qualquer se destacando em campo, sendo que é um jogador de passagens conhecidas no Vasco, por exemplo.
Na FluTV, algo semelhante em termos de desinformação aconteceu. O narrador tricolor sequer mencionava jogadores do Flamengo e não narrava as jogadas do rival. Aproveitava qualquer oportunidade de posse de bola do rival para inserir alguma propaganda.
Os narradores de FlaTV, FluTV e VascoTV têm culpa de algo? Nenhuma. Afinal, é a linha editorial de seus respectivos veículos de mídia. É algo feito para aquele torcedor, aquele entusiasta que aprecia o clubismo, a zoação e não liga para informações ou análise. Ele está errado? Provável que não. Talvez seja feliz assim.
O problema é que atender apenas o torcedor é uma estratégia ruim, que força o emburrecimento das pessoas. Existiu um público flamenguista interessado em assistir ao jogo contra o Fluminense, assim como existe um torcedor neutro interessado na partida. Ambos se viram sem informação alguma e sem a fidelidade das coisas.
As TVs de clubes podem soar como uma boa alternativa, mas não podem ser as únicas. Um jornalismo mais sério e informativo nunca pode ser excluído de toda esta conta.
