É por atitude. É, também, por postura. Resistência e muita residência. Alexandre leva consigo a duríssima missão de se provar, em laboratório, na tarefa do seu dia a dia: sobreviver. Vítima substancial do racismo estrutural do país (do mundo), Babu se defende do preconceito velado apenas com a palavra e muita, mas muita, uma gigantesca paciência.
O BBB tem um elenco de brancos. Por sororidade, Thelma foi o alento de amizade. Prior, parceiro de guerrilha, mas não de causa. Sempre sozinho, o ‘Paizão’, entre gestos evidentes de voto extensivo e de críticas inconsistentes, foi o alvo. Sem sorte nas disputas, foi pra guerra desarmado. Recebeu o suporte do país, mas ele nunca soube. Teve que recompor forças em suas raizes. A mais bonita das defesas.
Babu não teve espaço de fala. Ninguém o quis ouvir. Seus rompantes de raiva que nunca passaram de uma voz grave de três segundos se tornaram o grande motivo para fazer dele um demônio. Chance de defesa ou de contar histórias nunca surgiram. Na vida fantástica dos privilegiados, o medo da fome que Babu expunha foi entendido como ‘brutalidade’. Elas queriam sorrisos. Ele queria lealdade.
Sem Prior, sem o mínimo de resguardo, Babu precisou impor todo seu conteúdo. Explicou suas origens, deu aulas e aulas sobre sua cor, justificou seus conceitos e colocou um pente-garfo nos cabelos para ser visto e ouvido por um Brasil inteiro. À fórceps, se colocou na prateleira principal do programa. E que sorte de todos nós que o assistimos.
Gestual típico do movimento Black Power dos anos 60 e 70, o pente-garfo era um gestual de resistência do movimento ‘Black is beautiful’ – ato político que trazia ao negro a ideia de que seu cabelo era super especial e, por isso tinha um pente único, próprio e diferenciado. Era a exaltação visual da cultura negra. Babu não poderia ter agido tão representativamente com tão pouco movimento. Explica tudo com quase nada.
Mal sabe Babu, ou desconfia, o quanto seu pente foi vítima de chacota pela régua (in)sensata das fadas. Manu percebeu, Rafa percebeu. Estenderam a mão, mas insistem em “ele melhorou”. Sob qual aspecto, me questiono: qual parâmetro de comparação? Não há como. Não se sabe o quanto de memória e repertório cada um carrega.
Babu acabou de sobreviver ao sexto paredão da casa com rejeição mínima, pouca coisa superior a 1% — 3 milhões num universo total de 398 milhões de votantes. Após a saída, Tiago Leifert perguntou a Marcela, a eliminada, quem ela via como forte. “Babu, talvez”. Talvez. Ela tem dúvida. O pente que não penteia, mas finca, ainda não ficou claro. Marcela só entende o que é claro. Só entende o que é branco.
Gordo, fumante, preto e pobre. Babu tem o verdadeiro estereótipo de um campeão. Do cabelo aos pés.
