Estreou no mês de julho a temporada América Latina da série Street Food, produzida e veiculada pela Netflix. Como dizem os jovens nas redes, a série dá gatilho no telespectador ao mostrar não só comidas convidativas como a vida nas ruas, rotina que boa parte das pessoas está privada desde março por conta da pandemia do covid-19.
A série visitou sete cidades em sete países diferentes na América Latina, mostrando quais as comidas que faz a cabeça da população. Elas vão desde as empanadas, passando pela moqueca de Salvador, pelo ceviche peruano e das memelas em Oaxaca, no México.
Em cada episódio há uma história principal onde as cozinheiras contam a sua história. É fácil e triste notar que grande parte das mulheres que aparecem dão depoimentos sobre casamentos que não terminaram bem e de situações envolvendo machismo ou racismo. Todas elas são mulheres guerreiras e fortes que superaram barreiras e foram pras ruas vender comida como forma de colocar dinheiro em casa. “O sonho é um tempo onde as mina não tenha que ser tão forte”, já nos dizia Emicida.
No único episódio que o personagem principal é um homem, o de Lima, o chefe Thomas “Toshi” Matsufuji mostra que também tem um problema mal resolvido com o seu pai, que foi um chefe dono de um restaurante muito famoso. Ele não consegue tocar o negócio do pai, o vende e abre um restaurante mais modesto. Como uma espécie de auto-defesa, ele é o primeiro a rebaixar as expectativas de seu restaurante para os clientes.
Mais do que comidas, a série é sobre histórias. E sobre a importância das ruas para a identidade de uma cidade e de um país. Pessoalmente foi impossível não me emocionar no momento do episódio de Buenos Aires em que é falado sobre a comida de estádio. Mesmo sem frequentar um há meses, eu consigo fechar os olhos e sentir o cheiro que mistura pernil, cebola e pimentão na porta do estádio.
A Netflix não ia imaginar que a série fosse ao ar em um momento de pandemia e que nossas emoções estariam tão à flor da pele desse jeito, mas o fato de muita gente estar em casa, dos mercados municipais, praças e estádios ficarem fechados por tanto tempo e do Brasil conviver quase bovinamente com mais de 1000 mortos por dia, coloca um tempero muito especial na produção.
