Há meses o Brasil vem convivendo com a investigação de um crime escabroso. A morte do pastor Anderson do Carmo, que foi assassinado em junho de 2019. A primeira suspeita era de que ele tinha sido morto após um assalto, mas nesta semana a Polícia Civil terminou o inquérito que aponta sua esposa, a pastora e deputada federal Flordelis, como a responsável pelo crime.
A história é digna de um filme, série ou podcast sobre crimes reais. Anderson era, ao mesmo tempo, marido e FILHO ADOTIVO de Flor. Antes ele era casado com Simone, FILHA BIOLÓGICA DA PASTORA. Internautas rapidamente começaram a tentar explicar, de modo criativo, toda a confusão.
Acontece que o filme sobre a vida da pastora e deputada federal já existe. Se chama: “Flordelis – Basta uma palavra para mudar”, de 2009. O que chama a atenção no cartaz de divulgação é o tanto de atores globais fazendo parte do elenco. Reynaldo Gianecchini, Alinne Moraes, Letícia Sabatella, Cauã Reymond e outros toparam a empreitada sem receber cachê, só pra ajudar a instituição de Flor, que resgata crianças de rua. Ela chegou a ter mais de 50 filhos adotivos e alguns deles a acusam de tratá-los de maneira diferente . Um deles disse que ele teve que ter relações sexuais com Flor para que fosse “purificado”.
Na noite da última terça-feira (25) eu topei o desafio e dei o play no filme que conta a história de Flor. A obra já começa usando uma ferramenta já tradicional no cinema mundial: começar o filme pelo fim. Outra pitada de ousadia é que a obra é toda em preto e branco. Quer dizer, quase toda.
As grandes estrelas aparecem interpretando os homens e mulheres resgatados por Flor nas ruas e contando suas histórias. A maioria segue um roteiro de encontro quase mágico com a pastora: são pessoas perdidas no crime, nas drogas ou na prostituição e que ao escutar a palavra de salvação, rapidamente são convencidas a abandonar a vida pregressa.
Reynaldo Gianecchini, por exemplo, é Alex. O traficante carioca conta a sua história dizendo que na época de seu auge no crime era rodeado por “minas”. O sotaque paulista dele pode causar estranhamento no início, mas o ponto alto de sua fala é quando ele diz que “inventou o arrastão na praia”. Existe também o traficante sulista, interpretado por Rodrigo Hilbert.
Além do discurso desses depoimentos seguir um roteiro muito parecido, eles ainda são recheados de músicas melosas, o que pode emocionar ou tornar a coisa enfadonha pra quem assiste. Outro ponto em comum são que todos eles são em preto e branco, menos o de Flordelis, que até abusa das cores com sua jaqueta azul. Além disso, ela é a única da família a parecer. Enquanto todos os filhos e filhas são interpretados pelas estrelas, Flordelis interpreta ela mesma.
Outro ponto que nos chama a atenção hoje, mais de 10 anos depois do filme ter sido feito, é o depoimento de Anderson do Carmo, que é interpretado por Marcello Antony. Ele não conta que era adotado por Flor nem que havia namorado a filha biológica da pastora, Simone, vivida por Deborah Secco. A única história é que ele se apaixonou pela heroína após vê-la passando no meio de um tiroteio entre facções rivais.
Já Erik Marmo interpretou Flavio, outro filho biológico de Flor. Ele conta a história de que ficou revoltado com mãe e entrou para o crime após a mesma descobrir uma traição de seu pai e o expulsar de casa. O modo de agir com o primeiro marido foi, digamos, mais ortodoxo. Ao invés de matar, só rolou uma separação mesmo.
A obra é bastante chapa branca e até pode servir como humor involuntário, como filme de fato, não funciona. Depois de assisti-lo é possível ver que os atores e atrizes escalados não tiveram AQUELE envolvimento com a história e atuaram mesmo fazendo juz ao cachê de zero real.
Fica agora a expectativa de quem vai fazer a continuidade da franquia e o nome que será adotado. Humildemente sugiro: Flordelis 2: a inimiga agora é ela mesma.
